Estudos importantes, como o “Central and Peripheral Circadian Clocks in Mammals” de Mohawk, Green e Takahashi (2012), nos ajudam a entender como esse sistema funciona. Aqui na Além da Psiquiatria, a gente leva muito a sério essa conexão entre o seu ritmo interno e como você se sente, porque entender isso é chave para um cuidado completo e eficaz, especialmente para quadros de ansiedade, depressão e TDAH.
Quem Comanda o Relógio? Conhecendo o NSQ
Imagine um maestro em uma grande orquestra. No nosso corpo, esse maestro é o Núcleo Supraquiasmático (NSQ). É uma pequena área no nosso cérebro, lá no hipotálamo, com cerca de 20.000 neurônios. O artigo de Mohawk e seus colegas (2012) explica que o NSQ é o “marca-passo mestre” do nosso corpo. Ele é quem dita o ritmo para coisas super importantes como nossos ciclos de sono e atividade, quando sentimos fome, a temperatura do nosso corpo e até a liberação de vários hormônios.
Como esse maestro sabe a hora certa? Principalmente pela luz. Nossos olhos têm células especiais que captam a luz do ambiente e mandam um aviso para o NSQ. É assim que nosso relógio interno se acerta com o dia e a noite lá fora. Esse sistema é tão importante porque ele dá estabilidade para toda a nossa organização diária. Se o NSQ está funcionando direitinho, nosso corpo e mente tendem a trabalhar em harmonia. Mas, se ele fica confuso – por exemplo, se a gente não pega sol direito, ou se troca o dia pela noite com frequência – a “orquestra” toda pode desafinar, e isso pode mexer bastante com nosso bem-estar.
Pequenos Relógios por Todo o Corpo
Mas a história não para no NSQ. O legal, como mostra o estudo de Mohawk et al. (2012), é que “quase todas as células do corpo contêm um relógio circadiano”. Isso mesmo! No seu fígado, nos seus rins, pulmões, e até na sua pele, existem pequenos “relógios” que seguem um mecanismo parecido com o do NSQ. Eles usam um conjunto de genes (como Clock, Bmal1, Per e Cry) que trabalham juntos para criar um ritmo de mais ou menos 24 horas.
Esses reloginhos espalhados pelo corpo, apesar de terem seu próprio ritmo, precisam estar em sintonia para que tudo funcione bem. O NSQ ajuda nisso, mandando sinais através de nervos e hormônios para alinhar todo mundo. Só que esses relógios locais também prestam atenção a outras coisas. Por exemplo, o horário que a gente come afeta bastante o relógio do fígado. A temperatura do nosso corpo, que também tem um ritmo ditado pelo NSQ, é outro sinal importante para muitos tecidos. Ou seja, não é só a luz que conta; vários fatores ajudam a manter nossos ritmos internos em ordem. Quando o relógio principal e esses reloginhos locais não estão conversando direito, isso pode gerar uma bagunça interna, com possíveis efeitos na nossa saúde.
Quando o Ritmo Sai do Tom: O Impacto na Saúde Mental
Manter esse ritmo interno afinado é, então, essencial para o equilíbrio do nosso corpo. Mas o que acontece se ele sai do tom? O artigo de Mohawk e colegas (2012) foca em como o sistema circadiano funciona, mas as coisas que ele controla – sono, atividade, hormônios, metabolismo – têm tudo a ver com a nossa saúde mental.
- Sono, Energia e Como Nos Sentimos O NSQ é o chefão dos nossos ciclos de “atividade e repouso”. Dormir bem e ter um ciclo de sono regular é básico para a gente se sentir bem e pensar com clareza. Quando esse ciclo fica bagunçado – com insônia, muito sono durante o dia, ou horários de dormir e acordar todos errados – isso é algo que a gente vê muito em quem tem ansiedade e depressão. Pode ser um sintoma, mas também pode piorar o quadro. No TDAH, também é comum ter dificuldade para dormir ou ter um sono “atrasado”, o que pode atrapalhar ainda mais a atenção e a impulsividade no dia a dia. O artigo diz que o NSQ dá “estabilidade para a arquitetura temporal geral do organismo”. Perder essa estabilidade, com um sono todo desregulado, pode levar a mudanças de humor, irritação e dificuldade de concentração, tornando mais difícil lidar com as coisas da vida.
- Hormônios e o Sobe e Desce do Humor Outra tarefa importante do NSQ é controlar a liberação de “hormônios”. Muitos hormônios, como o cortisol (aquele ligado ao estresse, que o artigo menciona indiretamente ao falar da sincronia por glicocorticoides), têm um ritmo diário bem marcado, subindo e descendo ao longo do dia. Se esse sistema desregula, o perfil dos nossos hormônios pode mudar, e isso pode afetar como a gente lida com o estresse e nosso humor em geral. Por exemplo, um cortisol que não varia direito ou que fica sempre alto já foi ligado a quadros de depressão e ansiedade. O artigo não entra em detalhes sobre quais hormônios afetam cada transtorno, mas a ideia de que o sistema circadiano organiza a produção hormonal é chave. Qualquer problema nessa organização pode bagunçar o equilíbrio químico que a gente precisa para se sentir mentalmente bem.
- Alimentação, Metabolismo e a “Gasolina” da Mente O NSQ também influencia nossos ritmos de “alimentação”. Como a gente viu, os relógios periféricos, principalmente no fígado, são muito sensíveis aos horários que comemos. O estudo de Mohawk et al. (2012) dá bastante atenção à forte ligação entre o sistema circadiano e como nosso corpo processa a energia. Problemas na forma como usamos a glicose ou guardamos gordura podem acontecer se nosso ritmo circadiano estiver bagunçado. Para a saúde mental, isso é importante porque nosso cérebro gasta muita energia. Se a energia do corpo varia muito, talvez por um metabolismo desregulado por causa de ritmos circadianos ruins, isso pode aparecer como cansaço e falta de vontade (comuns na depressão), ou pode influenciar a busca por recompensas e a impulsividade com a comida, que podem aparecer no TDAH ou em transtornos de ansiedade. O artigo até fala de um “Food-Entrainable Oscillator” (FEO) – um tipo de relógio que pode ser ajustado pela comida e que gera ritmos de comportamento mesmo sem o NSQ – o que mostra ainda mais como nossos hábitos alimentares são importantes para manter nosso ritmo interno.
A Sintonia é Tudo: Encontrando o Equilíbrio na Além da Psiquiatria
Entender o quanto o sistema circadiano afeta nossa biologia é o primeiro passo para ver o papel dele na saúde mental. Aqui na Além da Psiquiatria, com o Dr. Pedro, a gente olha para quatro pontos principais quando vai ajudar alguém: a queixa principal (o que mais está incomodando), a personalidade da pessoa, sua história de vida e, claro, as questões biológicas por trás de tudo. Investigar o ritmo circadiano e como ele está afetando o bem-estar do paciente entra direto nesse último ponto.
O artigo de Mohawk et al. (2012) mostra um sistema bem complexo, com vários níveis de controle e interação. A saúde mental também é assim, complexa. Não é só uma questão de neurotransmissores; é um sistema todo integrado, onde sono, hormônios, metabolismo e nossos ritmos de comportamento estão todos ligados. Quando um paciente chega e conta que tem problemas para dormir, que o apetite mudou, ou que se sente sempre “fora de ritmo”, investigar como está o seu sistema circadiano é uma parte muito importante da avaliação.
A gente acredita que o paciente que “sai da consulta entendendo exatamente quais os problemas dele, em ordem de prioridade, entende qual o motivo de cada conduta e o que esperar de cada uma delas”, como o Dr. Pedro sempre diz, se sente mais preparado para fazer parte do tratamento. Explicar como o “ritmo da mente” pode estar sendo afetado por problemas circadianos não é só dar informação, é dar poder. Isso pode fazer com que a pessoa se dedique mais ao tratamento, o que é fundamental para um bom resultado. O tratamento pode incluir remédios, se precisar, mas também orientações para ajustar a rotina, melhorar o sono, ter cuidado com a exposição à luz e com os horários de comer – tudo para tentar acertar o relógio biológico.
O Futuro é Agora: Ritmos e Tratamento Personalizado
A pesquisa sobre o sistema circadiano não para. O estudo de Mohawk, Green e Takahashi (2012) nos deu uma boa base, mas a ciência continua descobrindo mais coisas sobre como esses relógios internos controlam nossa saúde. Entender esses mecanismos biológicos abre caminho para tratamentos cada vez mais personalizados e completos.
Na Além da Psiquiatria, a gente faz questão de estar sempre por dentro das novidades da ciência que podem ajudar nossos pacientes. A gente acredita que um tratamento bom para ansiedade, depressão, TDAH e outros problemas de saúde mental precisa olhar para a pessoa como um todo, entendendo essa ligação forte entre mente, corpo e os ritmos que nos guiam.
Para resumir, o “ritmo da mente” não é só uma expressão bonita. É uma realidade biológica, controlada pelo nosso sistema circadiano. Quando esse sistema está em ordem, ele ajuda a gente a ter uma boa saúde mental. Mas se ele desregula, os problemas podem aparecer em vários níveis, contribuindo para a ansiedade, depressão e TDAH. Se você se vê nesses desafios e quer uma ajuda que não só trate os sintomas, mas que procure entender as raízes biológicas do seu bem-estar, a Além da Psiquiatria está de portas abertas para oferecer um cuidado atencioso, baseado na ciência e, acima de tudo, humano.
Referência:
Mohawk, J. A., Green, C. B., & Takahashi, J. S. (2012). Central and Peripheral Circadian Clocks in Mammals. Annual Review of Neuroscience, 35, 445–462.
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